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Capítulo 31 de 42

1Eu havia feito um pacto com os meus olhos, para não desejar nunca olhar para uma virgem.

2Que parte me daria Deus lá do alto, que sorte o Todo-poderoso me enviaria do céu?

3Acaso a infelicidade não está reservada ao injusto e o infortúnio ao iníquo?

4Não conhece Deus os meus caminhos e não conta todos os meus passos?

5Se caminhei com a mentira e meu pé correu atrás da fraude,

6que Deus me pese na balança da justiça e reconhecerá a minha integridade.

7Se meus passos se desviaram do caminho e meu coração seguiu meus olhos, e se às minhas mãos se apegou qualquer mácula,

8que semeie eu e outro o coma, e minhas plantações sejam desenraizadas!

9Se meu coração foi seduzido por uma mulher, se fiquei à espreita à porta de meu vizinho,

10que minha mulher gire a mó para um outro e que estranhos a possuam!

11Pois isso seria um crime, um delito digno de julgamento,

12um fogo que devoraria até o abismo e que teria arruinado todos os meus bens.

13Nunca violei o direito de meu escravo ou de minha serva, em suas discussões comigo.

14Que farei eu quando Deus se levantar? Quando me interrogar, que lhe responderei?

15Aquele que me criou no ventre, não o criou também a ele? Um mesmo criador nos formou!

16Acaso recusei aos pobres aquilo que desejavam e fiz desfalecer os olhos da viúva?

17Ou comi sozinho meu pedaço de pão, sem que o órfão tivesse a sua parte?

18Antes, desde minha infância cuidei-o como um pai e desde o ventre materno fui o seu guia.

19Se vi perecer um homem por falta de roupa e um pobre que não tinha com que cobrir-se,

20sem que seus rins me tenham abençoado, aquecido como estava com a lã de minhas ovelhas;

21se levantei a mão contra o órfão, quando me via apoiado pelos juízes,*

22que meu ombro caia de minhas costas e meu braço seja arrancado de seu cotovelo!

23Pois o terror de Deus me invadiu e diante de sua majestade não posso subsistir.

24Nunca pus no ouro minha segurança e jamais disse ao ouro puro: ‘És minha esperança!’.

25Nunca me rejubilei por ser grande a minha riqueza, nem pelo fato de minha mão ter ajuntado muito.

26Quando via o sol brilhar e a lua levantar-se em seu esplendor,

27jamais meu coração deixou-se seduzir em segredo e minha mão não foi levada à boca para um beijo.*

28Isso seria um crime digno de castigo, pois eu teria renegado o Deus que está no alto.

29Nunca me alegrei com a ruína de meu inimigo, nem exultei quando a infelicidade o feriu.

30Não permiti que minha boca pecasse, reclamando sua morte por uma imprecação.

31Jamais as pessoas de minha tenda me disseram: ‘Há alguém que não tenha ficado satisfeito da carne?’.*

32O estrangeiro não passava a noite fora, eu abria a minha porta ao viajante.

33Nunca dissimulei minha culpa aos homens, escondendo em meu peito minha iniquidade,

34como se temesse a multidão e receasse o desprezo das famílias, a ponto de me manter quieto sem pôr o pé fora da porta.

35Oh! Se eu tivesse alguém para me ouvir! Eis a minha assinatura: que o Todo-poderoso me responda! Que o meu adversário escreva também um memorial.

36Por certo eu o carregaria sobre meus ombros e cingiria minha fronte com ele como de uma coroa!

37Eu lhe prestaria contas de todos os meus passos e me apresentaria diante dele altivo como um príncipe.

38Se minha terra clamou contra mim e seus sulcos derramaram lágrimas,*

39se comi seus frutos sem pagar, se afligi os seus donos,

40que em vez de trigo nasçam espinhos e joio em vez de cevada!”. Aqui terminam os discursos de Jó.*